Sugestões 1º Período

20-01-2015 15:24

Aqui vou deixar propostas de leitura de obras e também para o visionamento de filmes/ Documentários relacionadas com a matéria abordada ao longo do 1º Período.

Leitura:

 
  • "O Homem que Confundiu a Mulher com um Chapéu", de Oliver Sacks:

(Oliver Sacks, O Homem que Confundiu a Mulher com um Chapéu, tradução de Maria Vasconcelos Moreira, Editora Relógio D’Água, Lisboa, s/data.

 

   O célebre neurologista norte-americano faz uma descrição de vários casos clínicos de pessoas que sofreram lesões cerebrais de diversas categorias e relata os seus dramas pessoais a par da interpretação neurológica e psicológica de cada situação concreta, destacando como mais importante a história do paciente Dr. P, um músico distinto, e cuja lesão cerebral coloca em causa um dogma científico, a saber, que qualquer défice neuronal reduzia a atitude abstrata e categórica. Neste caso, é exatamente o oposto que acontece – um professor de música que perdeu no domínio visual os aspetos do emocional, o pessoal e o próprio real, ficando reduzido ao plano abstrato e categórico. Este é um caso de agnosia visual – o paciente nunca conseguia ver uma foto como um todo, mas apreendia os detalhes, era incapaz de ver uma paisagem ou uma cena como um quadro visual total. Ao observar um filme, não entendia nada do que estava a ver, nem sequer rostos familiares. O Dr. P. visualmente estava perdido num mundo de abstrações sem vida. A sua mente funcionava como um computador, revelando indiferença total para o mundo e as pessoas não eram vistas como pessoas mas como «coisas» ou meros objetos. Enganava-se muitas vezes ao agarrar objetos, baralhando-os. Foi assim que uma vez ao sair do consultório do Dr. Sacks estendeu a mão e agarrou na cabeça da mulher para a tentar levantar e pôr na cabeça. Tinha confundido a mulher com um chapéu! Daí o título das várias histórias clínicas deste livro. Já nem sequer conseguia sonhar com imagens. O concreto estava a ser perdido e substituído pelo abstrato. Este paciente encontrou uma estratégia imaginativa para lidar com a sua agnosia visual: só conseguia fazer tudo o que fosse transformado em música. Fazia tudo a cantar. A música, para ele, tomou o lugar da imagem. Já não tinha uma imagem corporal, mas uma espécie de melodia corporal. Tinha canções para tudo: para comer, para se vestir, tomar banho… Se houvesse uma interrupção da melodia, deixava de agir. A agnosia visual do Dr. P. pode ser categorizada melhor como uma prosopagnosia (incapacidade visual de reconhecer rostos). A melhor forma de remediar o problema do Dr. P. por parte de Oliver Sacks foi feita nestes termos: «Não lhe posso explicar o seu problema, mas posso dizer-lhe qual não é o problema: o senhor é um ótimo músico e a música é a sua vida. O que lhe receito é uma vida inteiramente repleta de música. A música tem sido o centro da sua vida, a partir de agora vai passar a ser a sua vida.» (Op. Cit., p.35)

https://www.youtube.com/watch?v=xzdwTvQeH8g

 

  • "Phantoms In The Brain. Human Nature and the Architecture of the Mind", de Sandra Blakeslee & Ramachandran:

Sandra Blakeslee & Ramachandran, V., Phantoms In The Brain. Human Nature and the Architecture of the Mind, Harper Perennial, London, 2005.

 

 

    Um livro que faz uma descrição extraordinária de casos de neurologia bastante bizarros e aprofunda a nossa compreensão do cérebro humano: a síndrome do «membro-fantasma» é uma das condições neurológicas que são estudadas: como é possível sentir dor num membro corporal que já não existe (pois foi amputado)? O capítulo 1 discorre sobre este tema e mostra como Ramachandran conseguiu imaginar um dispositivo simples que fez o cérebro de alguns dos seus pacientes «desaprender» a dor do «membro-fantasma»: a caixa de espelhos. Uma obra interessante para quem gosta de saber mais acerca dos mistérios da mente humana e da sua base neurofisiológica.

 

 

 

  • "The Rough Guide to the Brain. Get to Know your Grey Matter" de Barry J. Gibb:

 

Barry J. Gibb, The Rough Guide to the Brain. Get to Know your Grey Matter, Penguin Group, London, 2007. 

 

    Uma obra muito interessante que explora o cérebro e as suas funções comportamentais, explanando conceitos básicos. É particularmente interessante a descrição que é feita nas páginas 88 a 94 sobre a formação da consciência e o caso das pessoas que foram sujeitas a uma intervenção cirúrgica radical, por sofrerem de crises epiléticas muito severas, a calosotomia, isto é, o seccionamento cirúrgico do corpo caloso, originando o fenómeno neurológico bizarro dos «cérebros divididos», como se houvesse na mente destas pessoas duas consciências em simultâneo.

 

 

 

 

  • "Incógnito. As Vidas Secretas do Cérebro Humano" de David Eagleman:

David Eagleman, Incógnito. As Vidas Secretas do Cérebro Humano, tradução de Catarina F. Almeida, Editorial Presença, Lisboa, 2012. 

 

    Uma obra de divulgação científica sobre o que de melhor se tem feito nos últimos anos no campo da neurociência e a sua relação com questões de natureza psicológica. O primeiro capítulo, «Há Alguém na Minha Cabeça Mas Não Sou Eu» é bastante elucidativo sobre as questões complexas que remetem para o estudo de comportamentos anómalos como os dos assassinos em série, histerias, suicidas, pedófilos, toxicodependências, jogadores compulsivos. Há nesta obra uma referência muito interessante acerca do único prémio Nobel de ciência português, atribuído a Egas Moniz, e ao procedimento cirúrgico radical para tratar alguns doentes mentais e criminosos considerados muito perigosos. Surge no capítulo 6 dedicado à discussão dos critérios de imputabilidade da responsabilidade ou da culpabilidade aos criminosos. Se a culpabilidade é como defende o autor neste capítulo «uma falsa questão», então qual é a melhor perspetiva para compreender a autoria, a causalidade, a responsabilidade, dos atos criminosos? A ideia central do autor defende que um sistema de justiça deve ser «mais compatível com o cérebro e virado para o futuro». Uma argumentação interessante que visa tratar os criminosos não como indivíduos a eliminar socialmente, nem a entender a prisão como uma solução de tamanho único, como se as prisões fossem, afinal, as instituições de saúde mental, mas que se devem procurar soluções de reabilitação personalizada. Uma questão pertinente e com a qual as sociedades modernas se confrontam. Qual o lugar do criminoso? E o que tem a neurociência a dizer sobre o funcionamento do cérebro criminoso? Qual é a diferença entre o perverso e o doente no mundo do crime?

 

  • "O Livro do Cérebro" de Rita Carter, Susan Aldridge, Martyn Page e Steve Parker:

    Este livro ilustrado, escrito por Rita Carter, Susan Aldridge, Martyn Page e Steve Parker, revela todos os aspetos da anatomia e do funcionamento do cérebro humano com extraordinária clareza e representa o conhecimento científico do que melhor se faz e sabe na atualidade acerca do órgão que é a base neurológica do comportamento humano. Incisivo, claro e validado pelos especialistas mais conceituados no campo da neurociência, é um manual essencial para estudantes e profissionais de saúde, assim como um livro de referência fascinante e abrangente para toda a família. É uma obra de divulgação científica que revela aspetos bastante interessantes sobre o nosso comportamento, em especial, o capítulo acerca da consciência humana que é o maior enigma por resolver: afinal, se somos capazes de enviar sondas espaciais a milhões de quilómetros do nosso planeta, o facto evidente que se pode associar à nossa mente é que continuamos a desconhecer o funcionamento do nosso cérebro – pardoxalmente, parece que somos ao mesmo tempo tão próximos e tão distantes de nós próprios.

   A questão da consciência é um enigma, uma espécie de Santo Gral da neurociência: por que razão precisamos da consciência? Como se forma ela a partir do intrincado complexo de fibras nervosas? Há só uma consciência? Ou há vários níveis em que a consciência opera? No capítulo dedicado à consciência questiona-se como é que um disparo elétrico das células do nosso cérebro produz a experiência consciente, ou como é que o mundo físico comunica com o mental, uma questão de natureza especulativa filosófica bem antiga e que a moderna neurociência procura agora tentar dar resposta. Assim, na página 177 descreve-se que há três tipos de consciência em função do foco do alerta ou do «objeto» da concentração. Os padrões neuronais determinam o nível de intensidade da consciência. A ideia de localização da consciência parece ter sido um paradigma abandonado pela neurociência e em seu lugar propõe-se uma abordagem que podemos designar por «unidade funcional do cérebro», isto é, a consciência emerge de uma visão holística das funções cerebrais. Mas, por outro lado, as experiências de separação do cérebro, como ocorre nos casos mais graves de epilepsia, conduziram à formação de um fenómeno bizarro, os chamados «cérebros divididos», em que as pessoas tinham uma espécie de dupla mente ou «dupla consciência». É interessante fazer a leitura da página 198 desta obra, precisamente votada ao tema «cérebros estranhos», para compreender o verdadeiro enigma que a consciência assume para a ciência.

 

Visionamento de Filmes/ Documentários:

 

 
 
 
  • A propósito do tema da Cultura, deixo a sugestão para o visionamento do filme "Nell". Para quem gostar de bons filmes, daqueles que no final nos deixam a pensar, aconselho que vejam para já o trailer e depois comprem o filme. Para mais informações clique na imagem.

 

 

 

 

 

  • Deixo também então a sugestão para o visionamento do documentário: "Racismo: Uma História "- (Racism: A history). É um documentário produzido pela BBC Four,  no ano de 2007, em comemoração do bicentenário do Ato contra o Comércio de Escravos, de 1807, inserido na chamada "Abolition Season" promovida pelo canal inglês.
 

   O documentário foi narrado por Sophie Okonedo e dividido em três episódios independentes entre si, cada um contando com cerca de        60 minutos de duração:      

1.   "A Cor do Dinheiro"  2.  "Impactos Fatais"  3.  "Um Legado Selvagem"                                           

 

 

                                                                                          Para mais informções clique na imagem